Identidade nacional: a rede de dormir é tema de exposição de arte

De objeto utilitário a ítem de decoração, a rede de dormir tem forte impacto na construção da identidade cultural do país. A exposição “Vai e Vem”, em cartaz até julho no Centro Cultural do Banco do Brasil – CCBB, em São Paulo, cria uma narrativa de como a peça criada pelos povos ameríndios se tornou ícone de brasilidade.
A rede de dormir aparece em diversas representações. São 300 obras provenientes de coleções públicas e privadas, de documentos coloniais datados do século 16 a performances contemporâneas realizadas no século 21. Há pinturas, esculturas, instalações, fotografias, vídeos, documentos e até mesmo história em quadrinhos (HQs).
São trabalhos de importantes artistas brasileiros como Bené Fonteles, Bispo do Rosário, Claudia Andujar, Djanira, Ernesto Neto, Luiz Braga, Mestre Vitalino, Tarsila do Amaral e Tunga e ainda obras de 32 artistas contemporâneos indígenas como Arissana Pataxó, Denilson Baniwá, Duhigó Tukano, Gustavo Caboco, Jaider Esbell e o coletivo MAHKU.
Algumas obras foram criadas especialmente para a mostra cujo objetivo é ir além da imagem da rede como objeto de descanso e vadiagem.
Na exposição, há redes que ajudam a lembrar outros usos da rede. Armadas em cabos de madeira foram muito utilizadas no passado como meios de transporte. Com o nome “rede de defunto”, tornou-se um meio muito utilizado nas áreas mais pobres do Nordeste para levar seus mortos ao enterro. Com o nome “serpentina” as redes tinham a função de transportar pessoas ricas no período colonial (geralmente esse trabalho era feito por escravos). Com isso, a mostra lembra que a rede é o nosso berço esplêndido — espaço do prazer e do deleite, mas também tem em seu passado a lembrança da exploração colonial.
“Longe de reforçar os estereótipos da tropicalidade, a exposição investiga as origens das redes e suas representações iconográficas: ao revisitar o passado conseguimos compreender como um fazer ancestral criado pelos povos ameríndios foi apropriado pelos europeus e, mais de cinco séculos após a invasão das Américas, ocupa um lugar de destaque no panteão que constitui a noção de uma identidade brasileira”, diz Raphael Fonseca, curador da mostra, crítico, historiador da arte e curador do MAC-Niterói.
A exposição ocupa todos os andares do centro cultural e está dividida por contextos.

  • Resistências e permanências – obras produzidas por artistas contemporâneos indígenas e trabalhos de grandes nomes da arte brasileira.
  • A rede como escultura, a escultura como rede – trabalhos que mostram redes de dormir por meio da escultura como linguagem artística
  • Olhar para o outro, olhar para si– documentos e trabalhos de artistas históricos e viajantes

Disseminações: entre o público e o privado – as redes em atividades do cotidiano do Brasil colonial — mobiliário, meio de transporte e práticas funerárias.

  • Modernidades: espaços para a preguiça – as redes associadas à estafa e ao descanso decorrentes do trabalho braçal no calor tropical
  • Invenções do Nordeste– obras que representam a relação entre as redes e a região de grande potência textil.

Uma honra que a produção de redes, no Nordeste, como na Santa Luzia Redes e Decoração em São Bento, na Paraíba, venha contribuindo para manter viva a tradição da rede de dormir como objeto utilitário e decorativo na cultura brasileira.
Vaivém
*CCBB – Centro Cultural Banco do Brasil São Paulo
Rua Álvares Penteado, 112, Centro, tel. (11) 3113-3651
De 22 de maio a 29 de julho
Todos os dias, das 9h às 21h, exceto terças
Entrada gratuita
bb.com.br/cultural
*A exposição vai também ser exibida nos CCBB Rio de Janeiro (2019) e Belo Horizonte (2020)

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